Hoje eu perdi um vôo

Hannah Hebron
4 min readJun 21, 2018

E esse é só um texto pra falar que sonhos se realizam e carreiras nem sempre são como a gente deseja

O vôo que saiu de Tel Aviv as 17h45 (horário local) com escala em Madri e rumo ao Rio de Janeiro foi com um lugarzinho vazio: o meu.

Quem me conhece sabe que a ideia de morar em Israel não é nova, e que entre processos seletivos de mestrado e aplications para bolsas e programas de intercâmbio, finalmente botei meus pés em Tel Aviv para algo mais que férias.

Eu sempre sonhei com lugares que significavam o “olho do furacão” pra mim. De uma adolescência em Natal sonhando com a efervescência e os contrastes do Rio, aos anos no Rio pensando em como seria atravessar oceanos em novas aventuras.

Pois bem. Em 2015 cheguei ao Rio sem dinheiro, sem emprego, com uma vaga no Instituto Europeo di Design e muita esperança. Veio emprego na Perestroika, na Reserva, freelas e mais freelas, encontros com gente que eu admiro mais que tudo no mundo (e antes só via pela tv ou nas internetes) e tantas outras coisas. Realizei sonhos profissionais, amorosos, materiais e emocionais. Até que depois de uma demissão de um emprego que, apesar de ter me ensinado muito, não me fazia feliz, decidi que a hora de cruzar o tal oceano tinha chegado.

Em Novembro de 2017 comecei a saga de vistos, orçamentos e papeladas, e no dia 22 de Janeiro lá estava eu, escoltada pelo meu irmão amigo e amigo irmão, com a cabeça fervendo e o coração incerto, esperando meu vôo em um portão gelado e cinza do Galeão.

Se alguém me contasse naquele momento que eu estaria aqui, vivendo exatamente o que eu estou vivendo, no dia em que eu deveria voltar para a minha “vida normal”, eu provavelmente não acreditaria.

Isso porque eu não sei vocês, mas eu estou sempre me colocando em cheque, e sempre me perguntando “when will i make it?”. O dinheiro é curto e sempre foi, e mesmo quando o salário ia aumentando, as contas e o aluguel faziam com que não sobrasse muita coisa. Quando eu vou “make it”? Bem, hoje, depois de perder um vôo que me levaria pra perto da minha amada família e dos meus amados amigos, eu tenho uma clareza. I already did make it.

Eu, que sonhava com uma carreira no Google, ou na Elle ou em qualquer outra grande empresa que sempre esteve presa no meu imaginário, acabei trabalhando para empresas e veículos menores do que eu almejava. E foi no meio dos meus auto-questionamentos que eu percebi que deixar a sua marca e saber planejar o seu próximo passo com responsabilidade é o que realmente importa. E se esse é o caso, acho que dei certo até com os brigadeiros e bolinhos que eu vendia pra fazer um extra (pergunte aos que provaram e vão ver que eu não estou mentindo).

Dei um duro danado, não me formei na Puc ou na ESPM, sofri preconceito por ser nordestina e fui questionada mil vezes sobre a minha capacidade. Mas também tive chefes que me ensinaram MUITO, tive pessoas que acreditaram e apostaram em mim quando eu já estava cansada de receber “não” na cara. Que sorte. Desistir nunca foi uma opção, e a minha família que tanto me apoiou bem sabe disso. Mas o que era minha trigésima rejeição, era só mais uma recusa para o outro lado. Como competir com isso? Como se manter forte? Pra falar a verdade eu não sei a resposta, mas sei que todos esses caminhos me trouxeram para o outro lado do oceano que eu sempre sonhei.

Consegui um emprego que eu queria muito em uma startup nova no mercado, recebi um voto de confiança do argentino de 34 anos que vem a ser meu chefe e cheguei no meu primeiro cargo de gerência em uma empresa pequena, mas com um time incrível. Cheguei. Só cheguei. E não paro por aqui.

Lá vou eu realizar mais sonhos profissionais, amorosos (oi, amor ❤), pessoais e malucos, só que agora um cadinho longe.

Hoje eu perdi um vôo, mas ganhei uma vida nova.

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Hannah Hebron

A Brazilian journalist living in Tel Aviv and writing in portuguese and english about fashion, feelings and work. Yeah, a lot… But you’ll get it eventually.